O Turistórico: junho 2011














5 de junho de 2011

As não histórias da quase ruína!

"Olha a Casa da Bruxa..!!" gritava um garoto com uniforme da escola e mochila nas costas. Enquanto isso, outro coleguinha dava risadas e ambos saíam correndo em direção à Praça Moura Carvalho, em Icoaraci.
 
Bem, que as crianças transbordam espontaneidade ninguém duvida, mas no fundo... eu não teria porque discordar dos dois, já que esse era mesmo o aspecto do Chalé Senador José Porfírio, localizado na Rua Padre Júlio Maria.

O leitor já deve ter percebido que insisto em Icoaraci, não? Bom, como próprio morador... achei que seria justo começar nossos roteiros pelas proximidades. A única diferença é falar em turismo histórico num lugar em que prédios como a antiga casa do poeta paraense Antônio Tavernard (sugestão para próximos posts) são apenas paredes cobertas por "lençóis" de plantas.

A história do Chalé Senador José Porfírio é quase um enigma.. portanto, apenas arrisco alguns comentários e exponho outros baseados na memória de moradores como Dionísio Barros, mais conhecido como "Seu Dudu". 

Morador da rua há 74 anos, ele falava sobre a sua saída da infância para a adolescência na mesma rua do Chalé:

"Quando tinha doze pra quatorze anos de idade eu brincava dentro da casa, mas isso quando os donos deixavam. Lembro que ela era toda de acapú e pau-amarelo, o assoalho e os móveis eram coloniais e tinha uma escada tipo caracol, que é colonial também", conta.

Segundo ele, na residência já chegou a funcionar uma biblioteca que durou pouco tempo. Agora, apenas uma família ocupa os fundos da casa.

Tentei contato com o (a) responsável pelo imóvel. Um dos familiares disse apenas que o dono morava em Belém e vinha a Icoaraci com pouca frequência. A única pessoa que no momento poderia dar informações era uma senhora chamada de "Dona Cristina" que por sinal, não se sentiu à vontade para conversar.

Conclusão: o Chalé Senador José Porfírio ainda se mantém em pé, apesar da grande árvore que ultrapassou o telhado (ou talvez a torre lateral, pois é impossível enxergar). O antigo catavento já não gira e as estruturas de ferro (a escadaria em estilo francês Art Nouveau e as grades do portão) estão parcialmente enferrujadas.

Segundo o representante do Departamento de Patrimônio Histórico (DEPH) da Fundação Cultural do Município de Belém, José Ribamar Monteiro Filho, não seria competência direta da Fumbel questionar o estado de conservação do edifício, já que a função do órgão é criar projetos e acompanhar obras em prédios que sejam de interesse para a sua conservação.

"Tratando-se de imóvel privado, é de responsabilidade do proprietário qualquer obra ou serviço a ser executado, incluída a liberação do bem para as obras de restauração via Programa Monumenta", diz Monteiro.

Ele fala ainda que o Chalé Senador José Porfírio não é de conhecimento da Fumbel, logo, seria preciso consultar a Divisão de Preservação do DEPH para encontrar o licenciamento do dono da residência.

José Monteiro explica ainda que se o proprietário se dispusesse a fazer um acordo com a Fumbel para a restauração do imóvel, ele deveria:
"Preencher um formulário com os dados de incrição do imóvel e dar o valor aproximado da obra de intervenção. Depois disso, ele precisaria participar de edital de imóveis privados quando for lançado, participar da seleção e da classificação e depois, passar por um processo de avaliação perante a Caixa Econômica e dos órgãos de preservação", diz ele.

Enquanto isso não acontece.. icoaracienses como o "Seu Dudu" e todos que já passaram pelo Chalé Senador José Porfírio esperam que num futuro urgentemente próximo, mais um capítulo da história da Época da Borracha em Belém não seja apagado. 


 

Deixo à disposição dos leitores uma reportagem feita pelo jornalista Igor Fonseca sobre o Chalé Senador José Porfírio. A matéria foi veiculada na Record News Nordeste.

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