O Turistórico: maio 2011














30 de maio de 2011

O pulso ainda pulsa?


Foto retirada do site "Icoaraci - Polo do Artesanato da Amazônia"
Convido o leitor de primeira viagem neste blog a visitar um lugar que há tempos... não tem condições de receber o público. 

Mas por que insistir num lugar assim, já que este blog se compromete com um turismo temporal? Bem, se tratando do Chalé Tavares Cardoso posso dizer que ele tem história.

Localizado na Rua Siqueira Mendes, a popular "Primeira Rua" dos icoaracienses na Vila Sorriso, o imóvel abriga atualmente a Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha.

O Chalé era a casa de veraneio de Eduardo Tavares Cardoso, livreiro português que chegou ao Pará durante a chamada Bélle Époque amazônica ("Bela Época" em francês), quando Belém disparava num crescimento econômico movido pela extração do látex das seringueiras no interior da floresta. Esse látex era transformado em borracha, que por sua vez era usada na fabricação de produtos como pneus para bicicletas entre 1890 e 1920.

Entre tantas outras construções que já recheavam a malha urbana da capital paraense, o Chalé Tavares Cardoso foi construído longe do centro da cidade.

O dono mandou construir duas torres e duas escadarias frontais, além de uma extensa varanda com plantas ornamentais amazônicas e européias, que compunham o prédio em estilo eclético.

Só que o mais curioso e atrativo detalhe da casa foi fruto da imaginação e - claro - dos recursos financeiros do livreiro Eduardo que mandou construir um sistema de comportas ao lado da residência. Isso permitia que a água da Baía do Guajará entrassem no interior do terreno, garantindo tranquilos passeios de barco aos finais de semana.

Após a morte de Eduardo em 1935 o imóvel passou às mãos da filha Guilhermina de Menezes Cardoso, que depois precisou vendê-lo por motivos de doença e dinheiro.
Foi durante o governo do então prefeito Nélio Lobato, na década de 70, que o Chalé Tavares Cardoso passou a abrigar a Biblioteca Pública Avertano Rocha. Mesmo após as reformas feitas durante a gestão de Edmilson Rodrigues pelo DEPH (Departamento  do Patrimônio Histórico) da Fumbel (Fundação Cultural do Município de Belém), o prédio seguiu abandonado.

Antigo lago artificial
Ainda houve um tempo em que chegaram a ser promovidas atividades educativas no local, como dança, teatro e leitura, mas hoje já não se houve muito barulho em seus corredores.
O antigo e engenhoso lago virou um córrego que atualmente é depósito de lixo, que desce de um esgoto a céu aberto na Rua Siqueira Mendes.

O mato também cresce na mesma velocidade que a infiltração nas paredes e as "visitas" de ladrões dispensam comentários sobre a segurança no local.

Talvez como uma futura promessa de que o Chalé seja restaurado - não por uma simples vaidade, mas pela sua utilidade social -, a Biblioteca Pública Avertano Rocha vai promover na próxima quarta-feira (1° de Junho) algumas atividades para revitalização e limpeza no lugar, através de um projeto do governo federal (ver a matéria veiculada hoje no Portal Cultura).

Seja, enfim, por meio de projetos ou ações de cidadania,  nossa história material precisa da mesma atenção dada pelo leitor que termina este passeio pela memória com o pé na realidade. 

Fontes consultadas: